sexta-feira, 12 de outubro de 2007

SAVAT-KÁRION


Olá a todos.
Esse texto está sendo reescrito e está aqui já com algumas mudanças.  Peço que erros de escrita e de voz verbal  sejam perdoados. Se tudo der certo brevemente estaremos colocando aqui ou em outro local, imagens desse universo.  obrigado, Lucas Trindade.

                  SAVAT-KÁRION montando o romance...
 
Essa é a saga de um povo injustiçado e de pessoas que tentaram recuperar o seu lugar.
Mas esse não é um povo que você conheça, muito menos essas pessoas,
pois não há humanos nessa história.

Datas estelares:
calendario estelar: 33 megaoens galáticos no craquioen 10.522,
calendario craquistrano (craquioen): 18.401 craquioens da era estelar,
calendario aidorano : 1.343 oens depois do êxodo.
Localidade: galáxia Ambha; setor central; planeta gastridon II.



Oirgoirnofir viveu em outro tempo, outro lugar. Foi um sábio filósofo e contador de historias. Sua grande importância é que foi ele que contou, pela primeira vez, a maioria das histórias que vamos escutar e vivenciar aqui. Ele foi um bravo snoqwa quando jovem e um admirável sansi quando velho. Foi o último de sua espécie, os craquistranos. Ultimamente ele apenas meditava no alto das pedras e fazia jogos matemáticos. Sua pequena casa era situada em cima de enormes falésias a beira do mar em uma das ilhas do planeta Craquistra.
Oirgoirnofir estava em sua cabana de frente para seu antigo jigmathôri e não se sentia bem. estava aguardando a chegada de uma comitiva que iria levá-lo de seu planeta tranquilo do qual não queria sair, a uma grande espaçonave onde teria que contar algumas histórias . "Nada mal", ele adorava contar histórias. "será que serão crianças?" indagava a si mesmo e olhava para frente e via o jigmathôri. Era um artefato e tanto. Estava ocupando um espaço considerável em sua casa tão diminuta. Mas como era importante aquele aparelho. Era um visualisador ou materialisador de pensamentos. Bastava entrar nele , se conectar mentalmente e pensar no que quisesse que logo aparecia na sua parte superior exatamente aquilo que estava pensado em imagens em tamanho reduzido, mas com volume e textura de como se realmente existissem. Na maioria das vezes que o jigmathôri de Oirgoirnofir foi usado na época em que morava em gastriidon II foram contadas histórias, mas poderia ser qualquer outra coisa, até uma aula de ciências. Oir havia passado momentos intensamente mágicos ali dentro contando histórias ou dando aulas e por isso não queria se desfazer de seu jigmathôri. Foi nele que Krakshan contou uma vez no planeta Gastriidon II suas aventuras com sua família em seu a planeta natal. "Uma grande história" pensou o velho. Oir tinha saudades daqueles tempos em que ficava sentado na beira da praia lá em Gastriidon II e contava através do visualisador os suas mais incríveis lembranças e pensamentos. Jigmathôri. Essa máquina tinha uma tecnologia muito avançada e funcionalidade de um aparelho no auge de seu desenvolvimento. Possuia linhas leves e arrojadas. Feito de um material muito parecido com um vidro fosco mas que tinha outras propriedades, quando em pleno uso ficava quase que totalmente invisível restando apenas as imagens acima do narrador. Jigmathôri tinha uma outra habilidade interessante: a de gravar tudo que transmitia,pois possuia uma memória praticamente inesgotável.
Oir, que era uma importante figura não só para seu planeta mas também para o conselho galáctico, foi um dos idealizadores e desenvolvedores do projeto jigmathori. No meio acadêmico Oir era muito estudado nos livros e vídeos de história por causa de suas compilações históricas da grande guerra. Voltou a público quando seu irmão morreu e teve que tomar seu lugar no conselho galactico para que antigas relações políticas de planetas importantes para a solidez da confederação não se desfizessem. Nos últimos tempos estava meio esquecido de coisas que não esqueceria normalmente. Há muito tempo não se sentava dentro do jigmathori e resolveu ver uma das velhas histórias que contou há algumas centenas de oens atrás. entrou nele para acessar a memória. achou uma gravação feita quando morava em Gastriidon II. Naquela época dava aulas de filosofia na academia e contava suas histórias para crianças a beira da praia. o dia que separou pra ver foi muito especial, ele se lembra. um antigo amigo o visitou naquele dia durante sua história matutina a beira do mar e começou uma história. Era Krakshan e o que contou foi o começo de uma história incrível.


OS VELEJADORES DO CÉU


Datas estelares: calendario estelar: 33 megaoens galáticos no oen 10.521,
calendario craquistrano: 18.384 oens craquistranos da era estelar,
calendario aidorano: 1.264 oens ingonianos depois do êxodo.
Localidade:galáxia Ambha; setor exterior norte; planeta Ingon, sistema Kárion.

 História contada por Krakshan Psácula em visita a Oirgoirnofir em GastriidonII, sede da grande fraternidade federativa da galáxia Ambha', e está gravada nos arquivos do museu galáctico de Cráquistra. Os craquistranos acreditavam que a memória de uma pessoa era patrimônio cultural e histórico de todos os indivíduos da comunidade galáctica.
1. Krakshan começa a contar...
Chegamos à beira do lago Esyava no cair da noite. Os dias e noites de lá eram maiores e mais quentes do que os daqui, mas o calor do deserto começava a se dissipar e nos dar uma trégua. Kárion, como de costume, se punha no horizonte numa mistura extasiante de cores. O contraste do vermelho escarlate intenso do céu refletia no lago com o azul púrpuro de Kárion. Nós, que vínhamos chegando do deserto castigante, não deixamos de falar sobre aquele bonito entardecer. E, para surpresa de todos, as duas luas também flutuavam no céu naquela tarde. Naquela época, as pessoas e os grandes eventos ainda não tinham perdido o brilho aidorano de viver, porém o nível da água já havia começado a descer e os velejadores do céu haviam sido proibidos de voar. E já naquela época a spaskul (era de ouro aidorana) havia acabado há muito tempo.
Nós, os Psacula, viemos por terra junto com uma grande multidão de peregrinos . Nós eramos muitos e vinhamos juntos com camponeses humildes de outras regiões e de tribos isoladas do meio do deserto e das florestas. Estavam ali religiosa e tradicionalmente para as comemorações festivas de fim de ciclo e para ver, é claro, a largada da aerocompetição de ictiornitópteros e o campeonato de ludopédio acrobático. As Comemorações de Ayvera iriam começar depois da partida de todas as embarcações e nós só participaríamos na volta. O público em geral chegava de todos os lados e por dias e dias, por isso os arredores do Esyava, em volta das barracas de comida e de jogos, tornava um imenso e colorido acampamento nessa época.
Essa foi minha primeira viagem para longe da terra da minha família e eu estava bastante ancioso. Vim trazido junto com meus dois irmãos pequenos pela minha mãe em seu colo e ficava imaginando o que iria ver quando chegasse. Coisas incríveis para uma criança, com certeza. Mas, às vezes, vinha no chão, outras muitas, dormia e outras ainda, vinha sentado num maliut: o nosso transporte de cargas feito de liga metálica e madeira de grandes proporções. Vinha sobre os trilhos igualmente enormes da estrada. Ali em Eidos ela era a principal via que ligava o território inteiro e levava também as terras visinhas. Sua história de sua construção se perdeu num passado longínquo. A força de tração do nosso maliut eram os enormes animais chamados gôpicas, parentes de mamíferos e répteis. O maliut, que foi contruido pelo pai do pai do meu pai com o auxílio de muitos trabalhadores e amigos carregava em cima de sua estrutura, além de toda a nossa bagagem em grande quantidade, trazia o Caillait, nosso ictiornitóptero. Atrás e na nossa frente, víamos outras famílias de competidores que vinham também por terra trazendo suas embarcações puxadas em maliuts. E algumas outras que vinham de mais longe, chegavam pelo céu já prontos para a competição. Nós, os Psácula, que já éramos mais de dez, ainda trazíamos muitos amigos e parentes que sempre eram contratados para ajudar a colocar o íctio na água, ajustar as asas, que vinham soutas, e inflamar os balões. Antigamente o Caillait ficava montado constantemente, mas depois de 1.219 todos os velejadores do céu foram proibidos de voar, só podiam durante as competições de Ayvera.
1 Cada ictiornitóptero era uma atração em si. Eram um misto de velas, balões e cabos que variavam bastante de forma e que, ao passarem, causavam muitas impressões. Fabulosos! Eles representavam para todos a confirmação do passado rico e glorioso que os aidoranos queriam contar, mas não tinham lembranças suficientes. A teoria mais aceitável, naquela época, para a existência dos ictiornitóperos é uma que conta que no passado o planeta Ingon era envolvido por um enorme oceano e o antigo povo que aqui existia se locomovia sobre ele em barcos. Oens e oens se passaram até que o grande oceano secou só restando apenas algumas fossas( essas fossas são lagos com profundidades desconhecidas onde acreditam que todas ao redor de ingon são interligadas por dentro do planeta). Sendo muito espertos os nossos antepassados, não abandonaram a sua cultura, se adaptando a nova situação. Adaptaram balões e asas a seus barcos e navios e assim passaram a voar. essa é a história oficial.
  Outro aperfeiçoamento importante para o desenvolvimento dos Ictiornitópteros foi a adaptação de um compartimento de gás no fundo do casco dos barcos. Esse indispensável dispositivo se enxia de ar quente adcionado de algumas substâncias e operava no balanceamento entre o peso do casco e dos balôes, dando um equilíbrio incrivel. Não era assim uma maravilhosa descoberta. Foi apenas fruto da observação de uma qualidade muito conhecida dos pássaros. A de encher o peito… e voar. esse é um feito tão antigo que seu idealizador não é conhecido, nem seu nome ou época que viveu. os teóricos acreditam que tenha vivido por volta do oen 950.
Haveria ali naquelas águas e em suas redondezas outros tipos de competições. Muitas de força, muitas de velocidade, outras de inteligência e resistência, porém o que mais prendia a atenção dos espectadores, fora a largada dos ictiornitópteros, era os jogos de ludopédio acrobático. Minhas irmãs Gorhá e Ainin e meu irmão Aishan jogavam ludopédio e quando voltássemos eles iriam participar das competições E se vocês já acharam os ictiornitópteros incriveis, o ludopédio até então é inimaginável. E pra eu falar desse esporte, eu tenho que falar um pouco da história de nós aidoranos ou o que até então sabiamos sobre nós mesmos:
Mesmo tendo uma memória histórica limitada a 260 oens aidoranos atrás( 300 anos)- o que data de mais ou menos 100 ciclos depois da migração- nós, os aidoranos eramos um povo com desenvolvimento social e cultural muito grande. Mesmo sendo todas as cidades praticamente rurais nós já conheciamos a siderurgia e havíamos dominado a arte do uso da eletricidade.  Possuíamos uma malha ferroviária nas cidades e ferrovias ao lado das estradas de terra que ligavam as cidades e captávamos essa energia atravéz do processo eólico. Além de tudo isso éramos e ainda somos um povo muito cooperativo. Como diz um velho ditado: “Nossos ovos e nossas crianças são bem cuidados por todos para que um dia sejam pais de todos como nossos anciões são”. Existe a unidade da família, porêm tudo se dissolve com muita facilidade em prol de algo maior. É ai que entra o ludobol acrobático. Ele foi um esporte inventado a partir de um antigo esporte e só possível existir por causa do desenvolvimento tecnológico de nossa espécie e o força da cooperação. ele era composto por uma imensa estrutura comprida e circular de metal oca por dentro. Ela é composta por uma malha de fios e espécies do bobinas distribuidas por todo o seu entorno. Os jogadores dos dois times ficam na parte interna e é lá que á efetuado o jogo. Eles também vestem um malha do mesmo material. Quando ligada cria um campo magnético em seu interior que anula a gravidade para os jogadores e torna a superfície interna da gigantesca armação num imã. Assim eles podem andar nas paredes e praticar o ludopédio acrobático. Esse esporte consiste em dois times que tentam levar três bolas para o gol adversário, que são as duas extremidades do tubo que vão se afunilando até quase se fecharem. Incrível, não? O ludopédio serviu para trazer a paz no único momento na história conhecida que se soube que os aidoranos entraram em conflito violento entre si.
Mas isso eu conto depois. Aliás acho que mais na frente vai ficar ruim de eu mesmo contar a história. O que que você acha de continuar a contar a partir de agora? Eu ficarei ligado ao jigmathori por esse conector mental que ira te mostrar os detalhes de tudo.
Você que sabe. Então contarei a partir de agora. Eu até gostei dessa ideia, pois tenho algumas coisas a acrescentar...
2. Oirgoirnofir continua...
O regulameto daquele oen estava muito bem redigido em aidorano atual. Explicava em termos simples as regras básicas de todas as modalidades. Só havia uma coisa nova: o aumento dos prêmios simbólicos que agora não pareciam tão simbólicos assim. Mas como não era divulgado, grande parte da massa achava que coninuava apenas simbólico. Kazan e Voman, os mais engajados na competição, não demonstravam, mas com certeza pensavam em ganhar mais do que nas últimas vezes que participaram.
Já estávam à beira do lago. Seus irmãos mais velhos junto com alguns amigos que foram contratados para nos ajudar no transporte do Caillait , foram dar água e comida aos animais, enquanto Krakshan, Aisham e Orfin, contemplávam o gigantesco evento a sua volta. Logo Loina,a mãe deles, convocou Górha e Ainim para a arrumação em cima do barco que a qualquer momento seria despejado nas águas do Esyava. Kasan veio, por um momento, para tomar conta dos três.
- ei, vocês três. Não vão para muito longe. Aqui tem muito lugares para se perderem. O que estam achando daqui, hein? Aproveitem pra dar um mergulho, porque depois só em Mairnam.
  • As embarcações estão lindas este ano, não é, pai?. Estou feliz de estar aqui, pela primeira vez – disse, maravilhado com as cores e tudo mais.
  • Você sabe que já poderia ter vindo antes, não é?
  • É, mas agora estou aqui e está sendo legal.
  • Que bom que pensa assim.
  • E quando vamos levantar vôo, pai- disse Aishan, o mais ancioso.
  • Já, já, filho.
  • E quando vamos ver o ludopédio?- disse Orfinzinho.
  • Só quando voltarmos, filinho. Durante toda a minha vida eu vi essa maravilha. E, como comandante dessa embarcação vi tudo que vocês possam imaginar. - ele olhava pra mim- Filho , você é de uma outra geração. Vocês dois também, mas ainda sao pequenosnão pode mais fazer o que eu fiz. Além do mais, nossos costumes se tornaram outros. Não é necessário que você siga os meus passos, embora tenha conseguido que Vomam e Ganam seguissem. Quanto a isso, Kraksh, não precisa se preocupar, preocupe-se com a festa – meu pai me olhou com felicidade , um olhar feliz que há muito tempo não via em seu rosto. Deu um intervalo e prosseguiu- Isso! Pode ir se acostumando. Se acostume com a festa , meu filho . desde que foram descobertas e vigiadas as rotas proibidas e que Kasan e filhos mais velhos, tios e primos tiveram que parar de trabalhar no transporte mercadorias, considerado já naquela época clandestino, meu pai não sorria mais com tanta facilidade. -E vê se encontra seus priminhos e priminhas para brincar.- me incentivou. Já há algum tempo meu pai não parecia estar bem. Parecia triste e cabisbaixo. Diz mamãe que é porque ele não podia mais voar livremente. Naquela época eu ainda não via isso. Pessoas muito “maiores” que o pai de krakshan brigavam pelo comércio já a algum tempo.
-Eba ! Onde eles estão?- disse eufórico.
-Se já chegaram, estão mais ali na frente – bastaram essas palavras para ele sair correndo - Olha! E terá outra festa quando chegarmos em Mairnam. Lá também é muito bonito- com certeza queria levá-lo para uma daquelas academias de ciência localizadas em Mairnam, talvez para que se tornasse outra coisa diferente da que ele era.
Não tenho dúvida de que essa época dos oens foi sempre a mais esperada por todos da família Psacula. Também não duvido de que a corrida de ictiornitópteros fosse a competição mais desejada pela grande massa. Festa como essa, que reúne o povo do velho mundo mostrando o que resta de suas tradições era, na verdade, uma grande felicidade para todos do povo aidorano. No entanto acho que o maior mérito do povo aidorano é por preservar suas tradições.
Krakshan percorreu, sem o consentimento um longo pedaço da margem do Esyava para constatar que seus tios e primos não estavam por ali. O que aconteceu foi que percebeu estar no meio da maior multidão que já havia presenciado em toda a sua vida que não era longa. O planeta ingon é muito grande e por mais que a população fosse de alguns milhões, pra reunir umas dezenas de milhares era uma tarefa difícil dada a distância entre cidades e aldeias e a falta de transporte de massa adequado. Viu muita gente transitando, olhando as barracas de comidas bebidas e jogos. Lá circularam pessoas humildes, pessoas não tão humildes e até competidores de todos os tipos de esportes. Entre eles estavam famílias muito pobres, que não estavam ali por causa festa e que já naquela época estavam se tornando comuns, que faziam parte de um forte êxodo em direção a uma cidade do outro lado do mundo chamada Hanenra. lá, dizía-se, todos que iam pra lá enriqueciam.
  • olá, garoto. De onde esta vindo?- Krakshan levou um susto. Ao seu lado estava um senhor muito sorridente, baixinho e corcunda. Suas escamas eram muito desgastadas pelo tempo. Nem as do seu avô eram assim.
  • Sou de Aktej. Por quê?
  • Mais longe do que eu que sou daqui mesmo.
  • Daqui do Esyava?
  • Não, menino ingênuo, daqui do planeta Ingon.
    Krakshan olhou-o com estranheza. ”Daqui eu também sou.”
  • Mas onde você nasceu? É isso que me importa.
  • Nasci em actej.
  • Nunca tinha vindo aqui, certo? Sou do planalto e já percorri todos trilhos que existem nesse mundo.
  • Todos os trilhos do mundo? Incrível.
    Krakshan ainda conversou bastente com aquele velho. Enquanto seus irmãos passeavam entre as barracas.
Constatou que aquelas pessoas eram muito diferentes entre si. É óbvio que tinham as mesmas cor de escamas, os mesmos sete dedos em cada mão e também nasciam de ovos. Mas não existia nada que diferenciasse os Psacula de qualquer família daquelas ali a não ser o local em que nasceu. Percebeu uma última coisa antes de voltar com os outros para perto de nossos pais: embora a torcida para certas famílias de velejadores fosse grande, ao contrário do que pensava, para a população como um todo não importava muito quem iria ganhar. Importava sim, qual a equipe que possuía a melhor desenvoltura em todo o trajeto.
E como krakshan ainda não tinha visto a linhaluz e seus milágres, não imaginava como todos veriam uma competição de longas distancias? O sistema de video e audio centenário em Ingon que era capturado por aparelhos de tecnologia inimaginável, passariam toda a competição ao vivo para toda a extenção de linha luz e suas ramificações. Foi deixado pelos gargons durante sua colonização em Ingon e a consequente escravização dos aidoranos.
O lago Esyava sempre foi o ponto de partida para competições de ictiornitópteros. E isso acontecia desde que o último chefe governante, Ivalag malkhut, que foi também o último primogênito da última dinastia aidorana legítima que reinou sobre o solo de ingom, deitou sobre seu leito de morte. Esyava era a capital do antigo reino aidorano. E por ali ser cidade deles– o território dos Eidos do sul – era de se imaginar que sua família pertencia ao grupo das tribos mais antigas de velejadores do céu. Mesmo sendo sua casa um pouco distante do lago, numa região chamada Actej, não era um grande trabalho para eles empurrar a embarcação até a margem e lançá-la ao lago . É claro que tinham a ajuda de muitos e dos gôpicas. Valag era um dos amigos que sempre estavam ajudando, mas também ganhavam com isso. Vôou muitas vezes com Kasan. Antigamente ele e seu pai tinham o seu íctio, mas o perderam como multa por insistir em velejar irregularmente.
Todo o território dos eidos do sul compreendia um extenso território onde o lago Esyava era o centro. Não só geográfico , como econômico e político . Eu, que por ser muito novo e não ter ainda participado daquela festa , pois todos os anos anteriores tinha ficado em Acten com Norin e Orfin , Kraksha não conseguiu esquecer toda aquela cidade que , naquele momento , pareceu ser o centro do mundo.
Todos aqueles povos tão diferentes com aqueles balões multicoloridos fizeram sua cabeça pirar. Voavam a partir de bolhas de tecido preenchidas com vapor quente misturado com arela. A arela servia como aditivo e tornava, por mais tempo, o vapor mais leve que o ar. As embarcações que a princípio eram apenas barcos e que a partir de uma certa queima se transformavam subitamente em navios voadores, poderiam, com suas grandes velas, levar qualquer um para qualquer outro lago do velho planeta Ingon.
E era nisso que consistia a competição: ir de um lago ao outro. Mas não para um próximo, e sim um distante, um muito distante. Tradicionalmente a partida era no lago Esyava, nos Eidos do sul, e a chegada era no grande lago Mairnam, o maior lago do planeta, que ficava a meio mundo dali. Toda a corrida durava em média trinta dias pois , mesmo com os ventos sendo muito fortes , a distância era considerável.
O planeta, que por essas bandas não tinha florestas ou grandes vegetações, era um vasto deserto, com poucos lagos . As únicas grandes concentrações arboríferas estavam ali perto dos lagos, onde moravam a maioria das pessoas . E por falar nisso, as casas dos aidoranos são localizadas no subsolo. O principal motivo é que para poderem usar agua sem terem que gastar energia, as casas são construidas na beira dos lagos a baixo do nível da água.
Enfim, não encontraram seus primos. Voltaram e embarcaram. Foi muito emocionante para kraksha estar ali. Minha mãe o segurava pelo braço, ele o de Orfin, enquanto o Caillait ia ganhando forma. As asas laterais e traseiras foram abertas e as duas grandes velas da frente levavam também o tratamento adequado . As duas velas de manobra, menores e localizadas atrás, já estavam prontas, enquanto os três balões ainda esperariam um pouco.
Antes de dar a tão esperada largada , todos fizeram silêncio e se voltaram para o centro do lago para ouvir a linda voz de uma menina da família dos Aymanas cantar, em cima do barco de sua família, a canção dos povos. Todo ano ela era cantada antes de começar os jogos. Era uma música forte. Ela cantava e sua voz ecoava por uma longa distancia. Sua inigualável potência era reforçada pela ajuda de instrumentos de acústica em forma de cones acoplados na lateral do navio em que estava. Pareciam conchas enormes. Sua cor dourada e tudo que brilhava em volta deram a Kraksha a impressão de que aquela garotinha e seu barco não eram daquele mundo. Ele ainda era uma pequena criança e apenas estava entrando naquele universo de novidades, mas acho que não havia como as coisas serem menos chocantes para ele. Ficariam gravadas na memória como um quadro, uma pintura.
Todos acenaram para os homens que levariam Maliut de volta para nossa casa em Acten. Lá, o tio-avô estava à espera.
2.
A corrida estava para começar. O chefe de cada tripulação acendeu as respectivas fornalhas de seus navios voadores e, aos poucos, foram içando vôo.
Enquanto Kasan e e os dois filhos mais velhos cuidavam dos mecanismos de locomoção da nave, tais como batidas das asas, velas de direção dianteiras e traseiras, eu e os menores cuidávamos do compartimento da fornalha do Caillait. Colocávamos lenha ou arela quando nos pediam. O resto do tempo corríamos, brincávamos e fazíamos bagunça, enquanto minha mãe e outras pessoas gritavam que nós iriamos cair lá embaixo se não ficássemos quietos.
Os ictiornitópteros, as mais impressionantes naves já construídas, ultrapassavam facilmente qualquer mamífero , felino ou orino em velocidade e em altura, qualquer pássaro ou réptil voador . Eram sem dúvida, magníficos. Um poeta antigo dizia que “o pouso e descanso dessas fabulosas máquinas sempre seria sobre as águas , mas era no céu que ganhavam suas vidas”.
Caillait , a nossa nave –que era uma das maiores da esquadra- foi uma das primeiras a vencer a gravidade e ganhar altitude. Nossa tripulação era a nossa família : Meu pai , kasan; Minha mãe , Loína ; minhas irmãs: Górha e Ainin ; e meus irmãos : Vomam, Ganan , Aishan e Orfin .
O peso de todos nós mais muitas e muitas bagagens era sustentado no ar por três balões enormes repletos de vapor .Tais balões alinhados tinham o tamanho de quase duas vezes o diâmetro do barco. A arela era produzida pelas próprias famílias de velejadores há séculos. Ao resíduo que sobrava da queima da Arela junto da lenha dava-se o nome de gom. Esse gom era peneirado das cinzas, da fornalha e depois lavado e tratado. Após ter servido como poderoso levitador de balões , servia a todos, não só como um ótimo fumo, mas também para outros fins. Como, por exemplo, tempero para comida.
- E então? Vamos?- perguntou meu irmão Ganam subitamente, num momento em que me perdia na paisagem que se tornava cada vez menor.
- Mas vamos aonde ?
- você será o piloto. Papai já decidiu junto com os outros.
- Ganam, você não sabe que eu sou ainda muito pequeno para isso?
- É a sua primeira vez aqui, meu irmão, e aliás já está com uma idade em que já pode correr riscos. he! he! he!
- Tá bom.- disse aparentando tranquilidade. a verdade era que não estava tranquilo. e sei que de qualquer maneira acabaríamos- eu, Norin e orfin, as crianças, no meio da fumaça. Falo isso porque sempre após a primeira subida, quando o Caillait já havia ganhado altura, era a hora da primeira relaxada. Meu pai chamou todos na sala de controle para o velho ritual de fumar um pouco de gom misturado com fumo comum. Por um breve momento era possível controlar toda a nave apenas com uma pessoa. Daquela vez, fui eu a pessoa. As varias manétes de controle situavam-se na proa do Caillait . Como o piso ali na frente se elevava um pouco , mesmo eu sendo pequeno, fiquei na mesma altura que os maiores que continuavam em pé. E não havia nada de difícil naquilo . Como não iria fumar mesmo preferia ficar ali como comandante. Na verdade quando deixam uma criança fazer algo é claro que aquilo não deveria trazer perigo algum. Por isso não prestavam muita atenção em mim. A história que inventei em minha própria cabeça me entreteu durante muito tempo.
Tinha uma vista maravilhosa dali. Via o solo desertico se estendendo por todas as direções e se encontrando com o horizonte sem nenhum tipo de elevação. Olhava o céu claro no começo do entardecer e sentia o vento; uma das melhores sensações que já tive.
Até que, sem querer, no instante em que vagava os olhos no horizonte esverdeado, vi algo no céu. No primeiro momento, não sabia se tinha visto mesmo, mas depois comprovei. Esse algo, que voava a uma distancia enorme, brilhava com uma intensidade absurda. Começava a escurecer e da direção que eu o via, não poderia ser o reflexo do sol. E se mexia de forma estranha. Mas depois relaxei. Pensei que poderia ser um dos navios que tivesse se desviado ou alguma família atrasada para a largada. É, realmente isso me pareceu mais coerente naquele momento, e foi por isso que disse com a maior naturalidade quando me perguntaram em que eu estava pensando por tanto tempo com o olhar catatônico.
- Não , nada . Eu estava olhando aquilo lá . – E apontei para longe.
Quando disse aquilo todos riram , pois ninguém viu nada. No dia seguinte, quando eu mesmo já havia esquecido daquilo, Ganan veio me falar.
- Eu vi também – disse, para meu espanto. Por um instante não tive palavras. Após recordar do que a minha mente de criança insistia em esquecer.
- O que você acha que era?
- Não era nada normal. Com certeza não era nada normal. Brilhava muito,- resmungou- Durante toda a noite fiquei olhando o céu , mas não consegui ver mais nada.
Senti que Ganam estava ficando com uma expressão de preocupado .
- Mas o que te preocupa tanto ?- estava achando aquilo um tanto exagerado.
- O que me preocupa é que nem todos vêem isso.
- Estava muito longe, não conseguiram enxergar.- foi minha opinião mais sincera .
- Na verdade, o que eu acho é que nem todos podiam ver aquele ponto luminoso no céu.
- Mas como isso poderia acontecer?
- Quando eu era da sua idade, me perguntei a mesma coisa.
Passaram-se dias. Tudo transcorria bem na embarcação dos Psacula . A paisagem lá embaixo havia mudado um pouco: havia mais plantas e algumas elevações. Eu , como sempre , me sentia bem olhando a paisagem e brindando com meus irmãos. Havia tido enjôo algumas vezes , mas agora estava me acostumando. Ganam disse para não tirar os olhos do céu. Para ele, veríamos aquela luz de novo. Pediu para que eu não contasse a ninguém sobre o que conversávamos, embora soubesse que as pessoas não estavam interessadas naquilo. Mas não me importava , aquela paisagem me contagiava : grandes montanhas- passamos por cima de uma enorme- ; outros lagos ; alguns oásis ; vegetações esparças; e muito, muito deserto . O deserto era bonito lá de cima . Parecia bastante solitário também.
Tudo parecia perfeito demais, até descobrirem que teríamos que aterrizar por algumas horas para conseguir água. Havia sido Vomam que vira a água vazando e não conseguiu para o vazamento a tempo de evitar o disperdício. Isso pareceu desanimador para meu pai e irmãos mais velhos, pois perderíamos tempo na corrida.
Não esperavam que a água iria acabar tão rápido.
Meu pai , ao fazer a manobra de descida perdendo altitude , percebeu que mais a frente existia uma cadeia de montanhas que subiam solitárias na amplidão desertica . Disse que já as conhecia de outras viagens . Resolveu voar até mais a frente a meia altura . Sabia que ali facilmente encontraríamos água . Havia um lago entre aquelas montanhas.
Havíamos passado um terço do percurso de toda a corrida e estávamos agora numa área inóspita. Da proa, a frente dos comandos, meu pai gritou .
-Vomam, o que acha de aterrissarmos perto daquelas elevações ?
-Quais ?
-Aquelas lá na frente , que formam um pequeno vale no meio do deserto .
-Ah ! O velho vulcão Rhaddi . Ali no meio tem uma fossa de pequena largura.
- qual é a largura?
- 150 passos. largura suficiente para pousarmos.
-Lembra-se de lá ? Só não sabia que aquilo ali era um vulcão extinto- meu pai estava na proa e meu irmão no alto do mastro principal, por isso estavam berrando .
-É sim , pai . Uma vez bebendo com meus amigos alguém comentou sobre isso.
-Você acha mesmo que aquilo era um vulcão ?
-Olha, pai . Se é verdade ou não , eu não sei. O que sei é que o senhor sempre escolhe lugares ótimos , não é?- Vomam puxava o saco de meu pai nas horas mais estranhas e isso me irritava profundamente. Mas admirei o seu conhecimento sobre o vulcão.
-Então , pelas duas luas , vamos descer logo que eu não aguento essa conversa sonolenta de vocês dois. – falou minha mãe para confirmar nossa parada estratégica .
Vomam ainda perguntou ao nosso pai:
-Você acha que muitas pessoas já vieram andando até aqui?
-Duvido muito, Vomam. Acho que poucos já se aventuraram a chegar aqui a pé. nós aidoranos somos extremamente sociais
3.
Primeiro o caillait deu uma volta de reconhecimento. Do alto dava para se ter uma visão panorâmica do lugar. alguns montes que se elevavam da areia do deserto, formavam um pequeno vale cujo centro ovalado se encontrava o poço. Percebi que a cor da água era diferente . Era muito escura, praticamente negra.
-Mãe, por que a água é dessa cor tão escura ? Os outros lagos que avistamos eram todos com água de cor meio azulada ou esverdeada . Será que sabem o porquê disso?
-Mas é claro que sabem , Kraksh. É porque ela é extremamente profunda. Posso até te dizer que nunca souberam qual é a sua profundidade correta ,- disse minha mãe olhando lá para baixo.
- mas os outros que existem não são assim, não é?
- pelo contrário. na verdade a maioria dos poço de aguá mineral termica que existem no mundo não tem fundo. os que vemos o fundo é porque algum dia as suas paredes ruiram e tamparam o buraco que existia. e porque eu tenho certeza disso. é por que, segundo as mais novas pesquisas que estam sendo feitas pelos mais proeminentes cientistas da nossa sociedades, essa água toda que temos vem do centro do planeta.
A descida na água foi suave e tranquila . Os dois pequenos barcos que tínhamos nos levaram até a margem mais próxima . Ali , mesmo antes de atracarmos , já havíamos percebido uma formação rochosa estranhamente localizada à beira do lago. Era engraçado, não apenas por estar localizada ali, mas também por ser estranha: sua forma arredondada subia-lhe até quase a topo onde se encontravam saliências em forma de cilindros que mais pareciam espinhos gigantes meio inclinados para o lado. E não eram pequenos, mas como estavam localizados na parte superior da pedra não poderíamos medi-los. A altura da pedra era mais ou menos o seu diâmetro e a única coisa que contrastava com sua forma ovóide eram grandes saliências no seu cume.
Kárion já não castigava tanto nossas cabeças , pois a tarde já trazia algum frescor. Mesmo assim nos encaminhamos para a sombra daquela estranha pedra. Meu pai , que conhecia algumas histórias sobre o lugar tratou logo de atiçar a nossa curiosidade .
-ei ! Kraksh , Aisham e Orfin . Sabia que por aqui já passaram os antepassados de nossa civilização?
-É mesmo? Como sabe, papai?- disse Orfim , o caçula .
-É, sim . Quando os primeiros aidoranos desceram do planalto um dos primeiros lugares que encontraram foi esse vale. E dizem que eles moraram um tempo em cima dessa enorme pedra da qual nos aproveitamos da sombra agora ,- todos arregalaram os olhos e ficaram boquiabertos , do jeito que meu pai queria.
-Pai, então quer dizer que aquelas coisas pontiagudas em cima da pedra são casas?
-Sim, filho, são casas, e muito antigas.
Mas meu pai não havia contado tudo. Saímos do barco para conhecermos aquele lugar . A criançada adorou a idéia.
O lugar onde todos nós havíamos nascido, chamado Acten, ficava ao sul do lago Esyava. Acten tinha por característica ser uma região totalmente desértica e plana . Em Acten, se, por acaso, déssemos uma volta em torno de nós mesmos, e ao mesmo tempo seguíssemos com os olhos a linha do horizonte, não avistaríamos nenhuma elevação acima de 1 dv(medida relacionada ao tamanho médio de uma pessoa). Por isso, estar ali no meio daquele pequeno vale com aquelas plantas e aquele lago, estava sendo maravilhoso para nós .
Nosso pai nos disse que ainda demoraríamos um pouco , por isso fomos dar uma volta para conhecer um pouco aquele lugar. Apenas meu pai, minha mãe e Vomam ficaram.
Fomos dar um passeio em volta do lago. E minhas irmãs juntamente com Ganam, como boas tagarelas, começaram a conversar. Aisham e Orfim brincavam com plantinhas e pedras enquanto eu, que já passara da idade das plantinhas e pedras e não chegara ainda, para eles, na idade de filosofar, fiquei observando o lugar.
-Eu duvido que um dia nosso planeta venha a perecer. Isso é tudo balela. Além do mais, planetas não morrem de um dia para o outro. Isso para mim é tudo lenda. Um exemplo pra isso é nossa própria sociedade que ainda sobrevive, mesmo nessas condissões. E o comércio? Que domina e governa o nosso mundo atual? Antigamente eram os reis que governavam com a força, hoje são as comerciatas que vendem as nessecidades que precisamos. E tenho certeza que sempre venderão.
-Pode ser , Górha. Mas é sabido que nos últimos ciclos, lagos vêm secando e espécies de animais vêm sumindo do mapa. Isso não quer dizer nada para você? Aqui onde estamos ainda encontramos a vida com respeitavel força. Por ezemplo, - apontou para dentro do lago, para pontinhos que refletiam a luz de kárion- aqui existem peixes,- Eram realmente peixes, eram pequenos, mas em grande quantidade.- viram? Existem alguns pássaros aqui também e uma pequena quantidade de animais de grande porte. Eles não são caçados e seu ambiente não é mais depredado, e mesmo assim estão sumindo, suas espécies se extinguindo sem motivo.
-N…
-Isso é um fato,- cortou Ainim a resposta de Gorha- porém umas espécies morrem, outras podem surgir.
-Tá bom , Ainim.- disse irritado Ganan.- Vocês não querem acreditar que nosso planeta possa morrer um dia. Tudo bem. Pelo menos você há de concordar que as condições de vida estão se tornando cada vez mais difíceis, não estão?- disse quase que às obrigando a concordar.
Perdemos algum tempo nessa discussão, mas mudamos a direção do passeio. Chegamos a uma área onde uma fenda cortava dois daqueles morros,- eles formavam a muralha que nos escondia do deserto- ela dava a impressão de ter sido há muito tempo, um leito de rio- naquela época não tive essa impressão, pois nunca tinha visto um rio.- E não era só isso, toda a área estava coberta por uma vegetação seca, porém espessa, e muitas árvores de muitos galhos e folhas grossas como o caule, coisas que não víamos com frequência perto de casa. Por um instante, esqueci do enorme deserto que cercava aquele lugar. Ficamos a admirar aquele lado do vale por um longo tempo.
Nós havíamos contornado o vale . havíamos subido um pouco a encosta íngreme e depois andamos horizontalmente até chegarmos ao ponto mais distante do lago e da grande pedra. Aquele rio imaginário descia como um grande tobogam de pedra até a beira do lago Raddid. Ao seguir com os olhos aquela fenda, vi que orfin , o caçula, já estava fazendo por ali seu caminho de volta. Tentava nos dizer algo, só que ninguém lhe dava ouvidos. Conversávamos tão freneticamente que não havíamos percebido que outro ictiornitóptero havia pousado no lago. Eram nossos tios.
Chamei Orfin. Foi ai que com a maior naturalidade de uma criança levada, orfin se pois a correr na ladeira. Todos nós gritamos. Como se adiantasse. Tive que me esbaforir atras dele. Foi aí que escorreguei. E caí.
Foi uma poeirada só. Me ralei todo, mas nada que me fizesse chorar. Contudo só relaxei quando dei um cascudo em meu irmão. Ele, sim, chorou. Enquanto dizia a ele que era um idiota, percebi que atrás de onde estava sentado havia uma pedra com uma forma de ...
-Ei! Olha o que eu achei! É um crânio aidorano!
Minhas irmãs gritaram. Mesmo contra a vontade delas levei o objeto comigo, e mostrei a meu pai. Ele já vinha em nossa direção, preocupado. Primeiro deu uma bronca em nós dois, mas logo depois, repentinamente, sua face mudou. Surpreendentemente deu um sorriso e achou muito interessante o que acabáramos de encontrar. Era um crânio muito estranho. E por mais incrível que possa ser dizer isso, era verdade: não tinha a mesma forma da minha cabeça e nem da de ninguém que eu conhecia.
Voltamos à beira do lago e fomos logo cumprimentar nossos tios, Grione e Orolin, e nossos primos, Arin, Torri, Ailo e Neinei. Disseram que tinham o mesmo problema: falta de água.
Essa era a outra parte de minha família. Na verdade éramos praticamente a mesma família. À dez gerações, nossos avós se tornaram velejadores. Acabaram aderindo ao estilo tradicional de velejadores do céu. Meus tios eram primos entre si, assim como meus pais. Além disso, meu pai, que tinha o mesmo nome de meu irmão Orfin, e minha tia Grione, eram irmãos . Mesma coisa para minha mãe, Loina, e meu tio Orolin. Era realmente um emaranhado familiar. Nada mais natural para uma família de aidoranos.
O pedaço de osso ficara com meu pai. Não demorou para que meu tio, que acabara de chegar, se interessasse também.
-Que curioso!- disse com um sorriso- O que é isso, Orfin? É realmente o que me parece?
-Sim, é um crânio, Olorin.
Na mesma hora, os dois se dirigiram para a área onde eu havia caído e encontrado a coisa.
Por um momento, quase me esqueci de Gárie. Mas ela estava lá também.
E foi o seu encontro que mais me deixou feliz. Já não a via há algum tempo, pois não morávamos perto. Por isso corremos um ao encontro do outro com tanta felicidade. Ela me levantou no alto e me rodou. Tinha a idade de minha irmã mais velha. Depois de termos nos cumprimentado, fomos conversar e olhar a vista ali por perto.
-Priminho querido, há quanto tempo!
-É, já faz algum tempo, não é?
-Que bom estarmos aqui!- disse ela- Chegamos um pouco atrasados. Quando já estávamos no céu, ficamos sabendo que um rastro de fumaça que ia para o lado contrário ao dos outros era o de vocês. Os seguimos e estamos aqui.
-Mas como poderiam saber que era o Caillait?
-Meu pai disse ter visto que eram vocês, embora estivesse muito longe. Não acreditei nele. Olha! Não fale pra ninguém, mas eu acho que isso foi uma mentira de meu pai.
-Como assim?
- Não sei, mas acho que seu pai, quando passou uns dias na minha casa no meio do ciclo passado, combinou com o meu de se encontrarem aqui, neste lugar. Eu ouvi o plano deles numa noite de conversa: “Então, vamos nos encontrar no vulcão Raddi, tudo bem?" era o que diziam quando entrei por trás das cortinas para espionar. nunca imaginei que pudessem estar dizendo aquilo. é contra as régras da academia de esportes.
-Engraçado. Por qual motivo você acha que eles desistiriam de competir? Isso tudo é tão importante para eles.
-Talvez isso tudo seja mesmo uma conhecidência, e eles só vieram aqui para pegar água, como realmente disseram.- concluiu Gárie.
-E é ai que eles se entregaram. Eu ouvi papai e mamãe discutindo algo sobre descer no deserto trancados em seu quarto. Mamãe não queria, mas papai a convenceu. Logo depois vi meu pai descendo ao porão. O segui e o flagrei abrindo um compartimentos de água que jogava a água para fora do nossa nave. Depois voltou dizendo que a água acabara e que teríamos que descer no deserto.
-Ué?! Mas… pra que isso?
Ficamos com essa dúvida. Tudo parecia muito estranho e continuou ainda por muito tempo. Combinamos de não falar sobre isso com ninguém. Pois não sabíamos o que eles pretendiam. Ficaríamos, portanto, desde aquele momento observando os seus passos. Fiquei pensando se Ganam não sabia de alguma coisa também.
Nossas suspeitas começaram a se confirmar quando, mais tarde, no final da noite, depois já termos conversado e passeado só nós dois por um longo tempo, orfin e aisham vieram ao nosso encontro dizendo:
-Ei! Papai disse que está cansado e por isso vamos dormir aqui hoje. Não é legal?
-Aqui no lago?
-É. No lago.
- E a competição?
- estão pensando em abandonar se por acaso o clima mudar.
- mas iremos até mairnam pelo menos, não é?
- sim iremos.
Entreolhamo-nos em silêncio. Será que isso teria a ver com o que Gárie havia dito? Era bem provável que sim. Voltamos para a margem do lago sem estarmos certos de nada. Por um momento, nos distraímos com outras coisas. Além do mais, estávamos nos divertindo ali. Aquilo tudo pra mim não era mais que uma brincadeira. Não me preocupava de verdade o que meu pai e meu tio estavam tramando. Todos os primos sabiam que os pais Kaza, dos psacula-tcha que somos nós e Orfin, dos Psacula-nani que 'a família de Gárie tinham uma certa tendência para guardar segredo mesmo. E nem me preocupava a nossa estadia ali, naquele lugar, pois para um menino que nasceu em uma caverna no meio do deserto castigante longe de qualquer aglomerado que tivesse mais do que um monat( albergue) e um onrami(comercio) , qualquer situação diferente seria interessante.
E a caveira? Era a única coisa que me intrigava. Sua forma e seu estado davam a entender que, há pouco tempo, alguém muito estranho havia passado por ali. Eu a havia encontrado na superfície, e não enterrada. Na parte de cima daquela cabeça e no local de onde a tirei ainda se podia ver alguns fios, que depois descobri serem cabelos. A peça ainda trazia um leve e quase perdido odor de carniça.
-Ai! Que fedor! – foi a primeira e mais exagerada observação que minha mãe fez quando, já ao entardecer, voltávamos para o barco para conversar e se preparar para dormir. O compartimento onde estávamos encontrava-se na parte dianteira em relação a sala da fornalha, que era colada nela. Isso fazia com que tivéssemos uma temperatura não tão fria ao cair da noite. Nessa sala havia a escada para descer ao porão e uma mesa e cadeiras para nos sentar. Mamãe estava em pé, em frente ao crânio que se encontrava em cima da mesa. E eu, segurando um copo com água não parava de olhá-lo também. Minha mãe se cansou:
-Orfin, – falava com meu pai- guarde esse cadáver dentro do armário, pois Kraksham está ficando catatônico.
-Mãe, você anda tão nervosa ultimamente, não é, gente ?- todos concordaram com Gohrá- a senhora não é assim.
-Loína, eu também acho. E, além do mais, isso não é um cadáver. É uma ossada. Deixe-o. O garoto que achou. Acho que ele tem o direito de olhar quanto quiser. Além de tudo, não sei se reparou que essa cabeça não era de nenhum aidorano. Posso afirmar, com toda certeza, que nenhum dos nossos antepassados teve e nenhum de nossos descendentes terá uma cabeça como essa. Pois lhe falta uma característica fundamental para ser um crânio de Aidorano. Essa ponta que temos no alto de nossas cabeças: a hipersonda. É ela que dá esse aspecto a nossa cabeça. Olhem como esse crânio é engraçado, ele não tem a hipersonda. Antes de mais nada ,Loína, temos que pensar em levá-lo para que algum especialista em Mairnam possa observa-lo com …
-Ha! Se não quer guardar, guardo eu,- Então minha mãe levantou e, imprudentemente, pegou com apenas uma das mãos. Foi um movimento rápido, por isso não conseguiu impedir que o crânio voasse de sua mão e se espatifasse no chão.
Ih!”, foi o que todos disseram primeiro. E um “Ah??” bem interrogativo foi o que todos disseram em seguida. O resto de ossada se destruiu revelando um interior negro e brilhoso como carvão cristalizado e no meio desse carvão havia um pequeno cristal escuro também. ele tinha forma de uma estrela Era como se o cérebro daquela pessoa tivesse sido queimado sem afetar a parte de fora e o resultado dessa combustão fosse aquele cristal. Minha mãe se desculpou gritando. E limpou tudo com a mesma energia com que gritou. Do mesmo modo, nos mandou dormir.
Fui deitar pensando naquilo e até demorei um pouco para dormir. Meu pai, meu tio, Vomam e Ganam ainda ficaram por horas falando sobre aquilo. E descobriram algo que eu não soube. Algo que tinha a ver com o cristal e a substância negra. Mas logo se cansaram e adormeceram.
No dia seguinte, todos acordaram cedo. É certo que uns foram obrigados.
-Acorda, Kraksh!- gritou Ainim com ironia.- Acorda, que eu tenho uma boa notícia pra te dar. Sua predileta vai com você.
-Pára com isso, Ainim,- disse a ela ainda deitado, me escondendo da luz. Percebi sua típica chantagem emocional. Ela estava falando de Gárie.
Mesmo com sono, me coloquei de pé na mesma hora para festejar com minha prima a mútua companhia que seria prolongada. Gárie, a partir dali, iria no caillait com a gente. É claro que ela comemorou a companhia de todos também. Até a de Ainim.
Pulávamos, enquanto Ainin ficava sentada na cama olhando para o chão. Ela tinha dois ciclos a menos que Gárie e sempre parecia competir com a prima em tudo. Mas Gárie não deixava por menos. Com isso, eu parecia ser naquele momento o principal objeto de disputa delas . O pior e’ que nem era um objeto de desejo, mas sim um brinquedinho ou algo do tipo, com o que se faz o que quiser. A minha sorte era que elas não teriam muito tempo para isso. Subimos as escadas do porão onde a maioria havia dormido para apreciarmos a linda manha naquele paraiso.
4.
Depois de nos alimentarmos e conversarmos bastante, nossas duas famílias se separaram para continuar a corrida. Eu, meus irmãos e Gárie corremos para o convés e vimos nossos primos no vad’Koran.
O amarelo, como nós carinhosamente o chamavam, era um Ictiornitóptero um pouco diferente do caillait. Um pouco menor, não tinha no seu casco, de menor altura, o compartimento inferior de gás. Mas o que impressionava no Vad’Kárion era seu imponente balão. Diferentemente do nosso, o Vad’Kárion se dava bem com um único e elegante Balão.
Quando se desprendia da água, observávamos sua beleza. Acenávamos a todos enquanto Vomam, Ganam e papai preparavam o Caillait para decolar. Mamãe estava conosco, mas não se sentia bem.
-O que houve, mãe?- Ainim perguntou.
-Quer que chamemos meu tio Orfin?- disse Gárie preocupada.
-Não, minha filhinha. Só acho que estou ficando velha para essas coisas. Sinto sim um mau pressentimento. Porém, acho que é coisa da minha cabeça.
-Está tudo bem, mãe,- disse Górha.- A única coisa que vai nos acontecer vai ser chegarmos no final da corrida o mais rápido que pudermos.
Caillait estava ganhando altura. A fornalha, a todo vapor, era uma situação rotineira para meu pai, que gritava e gesticulava enquanto meus irmãos corriam de um lado para o outro. Para mim, aquilo parecia ser divertido. Só me esquecera de que era, na verdade, muito cansativo também. Puxar cabos e amarrar cordas não é tarefa fácil. Fora o trabalho que tinham nosso transporte na rota certa, embora houvesse o vento forte que nos empurrava pra frente, poderiamos acabar indo pra qualquer lado.
Por causa da prolongada parada que demos, Kasan, vomam estavam perssuadindo a todos a não parar mais em nenhum lugar e ir direto pra Mairnam e assim ter chance de chegar em primeiro e não perder o prêmio.
- Mas pai, ainda temos a parada oficial da prova.- disse um tanto encolhido.
- Não importa. Demoramos aqui. Vamos seguir direto para ganhar tempo. Além do mais, é uma parada de exibição, só isso.
  • mas todos são obrigados a parar- disse nossa mãe.
  • Apenas se passarmos pro lá.
  • Como assim, se apenas passarmos por lá.
    Voman completou:
  • não há nada nas regras que diga que não possamos criar um caminho alternativo e estávamos tepnsando nessa possibilidade a algum tempo- ele estava sorrindo, feliz por poder completar o pensamento do pai.
    Ganan não acreditou:
  • ah, então vocês querem burlar as regras pra se darem bem?
  • Não estamos burlando, essa é apenas uma brecha. E não estamos fazendo isso para nos darmos bem. É... para chegarmos logo em Mairnam.
  • Essa não colou, pai- disse Ainim com um sorrizo sarcástico.
    Ai, todos começaram a falar juntos enquanto o paie seu filh o mais velho tentavam se justificar. Todos mesmo. Durante todo esse tempo Voman estava ao comando do Caillait. Eu não pude perceber de primeira o que estava prestes a acontecer, pois não sabia muito sobre o caminho que estávamos percorrendo. Mas logo entendemos quando Ganan, que fora os dois era o que entendia mais do céu ingonianoesclareceu com raiva:
  • Seus mentirosos! Eu sabia que tinha alguma coisa errada! Vocês já mudaram o caminho. Mas que caminho é esse?
  • Esse é um dos caminhos antigos das rotas de comércio.
    Gorhá pela primeira vez se pronunciou:
  • isso é um absurdo! Vocês não podem fazer isso em ao menos nos informarem?
  • calma, Gorhá. Porque está tão nervosa do nada. Não existe motivo...
- EXISTE SIM! Eu sou a responsável pelo trajeto que nós fazemos- ela olhou Vomam com tanta raiva que pareceu que eram crianças novamente.
  • Gorhá, venha cá - nossa mãe a chamou um pouco afastada dos demais. Enquanto isso o pai foi falar com Voman.
    As coisas haviam se alcamado por um momento. Ainim conversava com Gorhá e Ganam enquanto nossa mãe falava com papai e Vomam. Eu e Garie estávamos sentados na mesa de centro com Aishan e Orfin fingindo que não estávamos prestando atenção.
  • Esperem um pouco- Ganam gritou- Talvaz não seja tão ruim assim nós burlarmos as regras. Pai, acho que não tem problema de burlasmos as regras.
E assim foi. A nossa estadia no vale nos tinha tirado o tempo. Agora teríamos de correr. Os dias, que se passaram foram divertidos e tranquilos. E, para nós, as crianças, tudo parecia durar para sempre. Foi por esses dias que achei uma flauta velha nos fundos do porão. Não sabia tocá-la, mas mesmo assim foi uma ótima diversão. Não para Ainim. Qualquer coisa que eu fazia era motivo.
Devemos ter ficado ali por muito tempo. Todos estavamos exaustos e assustados. Nós, as crianças, fomos colocados dentro da sala da fornalha, junto com as meninas e mamãe. Fora a fumaça e o calor intenso, ali estávamos a salvo. Ficando ali, nós crianças, ganhamos o trabalho de colocar lenha no forno enquanto minha mãe dosava a arela. E ainda ficamos nessa situação durante um bom tempo. Depois de muito esbravejar, correr e cair, meu pai veio falar conosco. O barulho era tanto que tinha de gritar.
-Loína, não há mais o que fazer. Os...
Nesse momento Vomam e Ganam esbravejaram pulando e chorando.
-Pai! O chão! Estamos perto do chão!
- preparen-se para pousar. Acionem os pés de emergência.
Depois daquilo, tudo foi muito rápido. Meu pai correu para olhar. Naquele momento, o barco, por causa do vento, fez uma curva tão acentuada que, de onde nós estávamos,conseguimos ver o chão. E a primeira impressão que tivemos é de que não estávamos no deserto. Havia uma grande construção ali. Não era alta, mas tomava todo o solo para qualquer lado que quiséssemos olhar. Era tão grande que não se via suas extremidades. Entendi alguém dizer que desceríamos no seu interior.
-Ali no meio há um espaço aberto, sem construções. Vai ter que ser ali,- disse papai tentando ter calma para tomar as decisões certas.
Perdíamos altitude muito rápido. Meu pai continuava a berrar”- Subir! Subir! Não, para baixo agora!”. Uma hora até pensei que estavam brigando. Principalmente Ganam, que gritava mais alto. O caillait estava, na verdade, rodopiando no ar a uma altura não muito maior do que a sua própria. E não fui só eu que o senti descer bruscamente. Com o primeiro e intenso baque, vieram os gritos de quase todos. O segundo baque foi menor. O barco havia pousado mas continuou a se arrastar pelo solo, pois os balões, que ainda tinham pressão para ficar no ar, eram arrastados pelo vento forte. De lado, se não fosse Vomam entrar rápido na sala onde estávamos e começar a puxar manivelas para esvaziar os balões, o Caillait teria batido contra o grande muro que cada vez ficava mais próximo. O Caillait rangeu, balançou, mas encontrou seu centro de equilíbrio e parou. Seu casco estava quebrado. O gás do compartimento inferior escapava como um profundo suspiro. E a água lhe escorria, como sangue.
Depois do susto, a dor.
Não havia o que dizer, apenas o que consolar. Éramos um emaranhado de pessoas. Fomos nos levantando aos poucos. Felizmente ninguém havia sofrido ferimentos graves. O mais grave foi o de Ganam, que voou do convés ao solo, na lama. Saí para o convés e vi me irmão caído lá em baixo, ele gritava de dor. Meu pai e Vomam o socorreram. Enquanto gemia de dor, o ouvi dizer:
-Pai, isso aconteceu porque tentei contar a kraksha sobre eles. Tenho certeza disso.
-Não, meu filho. Isso foi apenas um acidente, eles não teriam como fazer isso.
-Teriam sim…- quando me viram, emudeceram. Não disse nada, mas sabia que eles, Ganam, Vomam e meu pai, sabiam de alguma coisa que os outros não sabiam.
Dias se passaram até que estivéssemos recuperados. Bons a ponto de nos preocupar em olhar a nossa volta, para tentar entender o que havia nos acontecido e, principalmente, saber em que lugar havíamos descido. Ninguém aparecera até aquele momento, nenhum morador, guarda ou alguém para nos socorrer. O céu, sem chuvas, continuava cinzento, quase negro. Tive quase certeza do que meu pai iria falar, naquele dia, quando chamou a todos. Disse que estava envergonhado de não ter dito aquilo antes. Contou que sabia por que estávamos ali. Não havia falado nada ainda, por que estava tentando pensar no melhor jeito de fazer aquilo. Falou, então, do dia da queda.
- Algo que passou voando de modo estranho, não se importando muito com a tempestade a sua volta. Flutuava tranquilamente. Uma hora parou e depois continuou.
-Não era um ictio como o nosso?
-Não. Sua forma era indescritível. Era formado por linhas retas mas que não lhe davam uma forma coerente. Era realmente absurdo.
-E em que momento viram isso?
-Foi quando estávamos prestes a cair.
-Quando Ganam gritou?-
-Foi.
Mas ainda faltava alguma coisa. Não sabia o que era.
-Pelas Luas! Eram demônios, então.
-Não, minha mãe.- esbravejou Ganam, em meio a dor e raiva.- foi a caveira. Foi a caveira que Kraksh achou.
-Ah! Então foram demônios mesmo. Pelas luas, pelas luas!
Naquele momento todos ficaram paralisados de espanto. Ganam continuou:
-Nós guardamos os cristais negros. Nós sabiamos para que ele serviria. Mãe, me desculpe, mas aqueles seres estranhos nos enganaram. Nos disseram que ajudaríam-nos, porém nos deixaram a beira da morte. Kraksh, você achou aquilo que fomos procurar lá naquele vale.
-O que?- todos disseram ao mesmo tempo.-
Gárie completou.
-Eu sabia! Meu pai também estava envolvido nisso, tenho certeza- e o tio dela consentiu com o silêncio- mas o que os fez ir até aquele oasis pegar aquele crânio para tirar-lhe as entranhas, afinal?
Ganam, com uma expressão de dor apenas levantou a cabeça. Pediu para que todos dessem atenção:
-Lembra, Kraksh, quando vimos aquilo no céu?- concordei com a cabeça- é, meu irmão, eram eles. Não disseram de onde vinham nem o que queriam da gente, apenas prometeram a nós muitas riquezas, se fizéssemos o que queriam, só não disseram o que pegariam em troca. Antes de cairmos, eles falaram na minha cabeça. Disseram que aqui onde caímos iremos ser uma família de reis, todos vão nos adorar e celebrar a nossa vinda do céu. Porém, para que isso aconteça iremos ficar longe de casa para sempre. Não é Vomam?
-É… é meu irmão. Eu também estava escutando.
-Essa foi a mensagem: aqui será nossa casa, o caillait foi nosso transporte e o cristal, o passaporte.
-Mas como assim passaporte?- perguntou minha mãe.
- passaporte pra onde?- disse alguem.
-Mamãe, lembra quando a senhora derrubou a caveira? Então, foi ai.
E minha mãe se pôs a chorar, todos a consolavam.
- Mas, e a corrida?- perguntou Gárie.
- não vamos completar.
Foi no silêncio que se seguiu, que escutamos gritos ao longe. Eram pessoas, e estavam visivelmente espantados e vinham em um grupo não muito grande. Mas nós, muito fracos, com certeza não conseguiríamos conter qualquer ataque vindo delas. Quando chegaram mais perto de nós vimos que traziam coisas nas mãos. Estávamos começando a ficar muito nervosos. Apontaram aquelas coisas para nós. Ainim deu um grito de medo. Mas, enquanto os que seguravam os artefatos, começaram a emitir sons através deles, os outros corriam em volta de nós e do caillait. Eles eram aidoranos como nós, ou pelo menos pareciam. Os que corriam, pareciam dançar freneticamente e cantavam em um idioma desconhecido para mim. Comecei a entender aquilo. Via o sorriso constante no rosto de Ganam e percebi: ”Estão, na verdade, nos dando as boas vindas”.
Porem, o mais bizarro de tudo ainda estava por vir. Enquanto aquelas pessoas, que eram o dobro de nós, faziam festa em volta de nós. De repente, do meio da massa saiu um homem encapuzado do qual não se via o rosto e suas atitudes não correspondiam as de felicidade dos demais, e chegou mais perto. Ele tinha um rolo nas mãos cobertas pos luvas. O rolo era um pergaminho antigo. O velho desenrolou o papel e falou no tom mais alto que conseguiu. Tinha um sotaque estranho, uma voz um tanto artificial, mas falava na nossa lingua:
Bem vindos!
Esperados e venerados.
Que viajaram e sofreram
Na tempestade
Sem saber porque
A tempestade da tridimensão
Nós, o povo de édoras,
Fomos escravizados e obrigados,
Pelos gargons,
A construir nossas casas
na grande espiral labirintica,
No qual estamos no centro,
Recebemos a instrução, também, de esperá-los,
Pois podem nos ajudar…
Não queremos deixar que nosso povo
preso aqui pra sempre
desapareça da face do planeta.
Vocês, Psacula, têm a resposta.
Nos ajudem com o cristal negro.